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O inverno chegou e o apetite maior também


_Sensação maior de fome durante dias frios pode estar mais ligada à cultura alimentar da população, do que necessariamente a reação fisiológica do corpo, diz médico, que também alerta para excessos que podem agravar doenças gástricas, como o refluxo_



No próximo dia 21 de junho tem início oficialmente o inverno brasileiro, estação marcada pelos dias mais curtos, noites mais longas e queda de temperatura, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. É também quando ocorre um fenômeno astronômico, baseado na órbita da Terra em relação ao Sol, conhecido por Solstício de Inverno, ou seja, o período em que o Hemisfério Norte está mais inclinado para o Sol, e no Hemisfério Sul há uma incidência menor dos raios solares, por isso os dias mais curtos.


Mas com a chegada do friozinho de inverno vem junto também aquela sensação recorrente de termos mais fome ou de necessidade de ingerirmos alimentos mais calóricos, situação que requer uma atenção especial de quem tem algum distúrbio gástrico pré-existente, como por exemplo a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE).


“É preciso tomar cuidado no inverno, porque a pessoa acaba descompensando os hábitos e agravando algumas doenças do trato gastrointestinal, como o refluxo. Vemos com frequência pacientes que acabam engordando nesta época ao comerem muitos alimentos com grande quantidade de gordura e calorias. Esses alimentos aumentam o tempo de digestão e o tempo de esvaziamento gástrico, aumentando a incidência de refluxo. Demandam ainda mais ácido gástrico para serem digeridos e isso também intensifica os sintomas do refluxo”, explica o cirurgião, endoscopista e membro da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed), Hugo Gonçalo Guedes (CRM/DF 25863).


*Cultura alimentar*

Mas, porque nos dias de temperaturas mais baixas costumamos ter tal reação? E qual a explicação lógica para isso? De acordo com Hugo Guedes, essa mudança de comportamento do nosso organismo está muito mais relacionada a uma questão da cultura alimentar da população, do que necessariamente a uma reação fisiológica do corpo.


“Até existem alguns trabalhos científicos que demonstram que durante o inverno temos uma menor produção de serotonina, que é um neurotransmissor que ajuda no estímulo da saciedade precoce. Portanto, com uma baixa concentração de serotonina, a gente pode ter, por efeito, uma sensação de aumento do apetite. Outros trabalhos, que estudam o nosso ritmo e padrão alimentar durante alguns períodos do ano, revelam por exemplo, que em dias mais escuros as pessoas tendem a comer mais calorias e de forma mais rápida. Porém, tais análises e conclusões são multivariadas e há muitas dúvidas sobre o real valor desses estudos”, esclarece o médico. Segundo o especialista, o que ocorre de fato é que durante o inverno “há sim o tédio, pela maior restrição de atividades físicas, o que estimula o sedentarismo e uma consequente compulsão alimentar”.


Sobre a vontade maior de ingerir alimentos mais calóricos e gordurosos, o médico explica que até existe uma racionalidade para tal comportamento, algo até instintivo. “No frio o nosso corpo trabalha para produzir mais calor, mantendo o equilíbrio da temperatura corporal, mas para isso demanda um maior consumo de calorias. Dessa forma ficamos mais suscetíveis a ingestão de alimentos mais calóricos”, ressalta.


Mas Hugo Guedes afirma que tal situação é válida somente em temperaturas extremas, em regiões polares, de baixíssima temperatura. Na nossa prática, de um país de clima tropical, isso dificilmente explica nossos exageros alimentares no inverno. “Então mais uma vez a gente entra na questão do desejo e na nossa cultura alimentar, da ‘licença poética’ que o inverno nos dá”, diz o médico.



*Moderação*

Hugo ressalta que pacientes que têm doenças como refluxo ou gastrite, por exemplo, precisam ficar muito atentos aos seus hábitos alimentares durante o inverno. “Você até tem direito a desfrutar do seu lazer no inverno, mas com moderação. É preciso então não exagerar e manter uma dieta equilibrada e bons hábitos”, pondera o especialista.


O médico, inclusive, faz uma correlação entre esse nosso comportamento alimentar durante o inverno e a nossa vontade maior de estarmos em forma na estação do verão. “Da mesma forma que as pessoas acham que o inverno é uma estação agradável para comer um alimento mais calórico, para tomar uma bebida mais quente e aproveitar o momento mais aconchegante; elas também entendem que o verão é o momento para se estar mais magro, mostrar a boa forma. Então nada melhor, para chegar bem nessa estação, do que cuidar agora da sua saúde no inverno”, sugere o médico.


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